sexta-feira, 20 de julho de 2012

Exercício de Prática de leitura


Texto 1:



Recado ao Senhor 903

Vizinho,



Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul.

Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.

[...] Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela’.

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.



BRAGA, Rubem. Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1991.







1.1 – Nos dois primeiros parágrafos, o texto se configura sob a forma de uma carta. Contudo, a partir da leitura do terceiro parágrafo, o texto muda de tom e percebe-se que se trata de uma crônica escrita sob a forma de carta, constituindo esse texto de Rubem Braga um claro exemplo de um gênero textual híbrido. Comprove esta afirmação apresentando ao menos uma característica, presente na construção do texto, de cada gênero mencionado.



1.2 – “[...] é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita [...]”. No decorrer do texto, o narrador emprega números para se referir a outros moradores e a si próprio. O que, nesta crônica, tal emprego sugere?



1.3 - O recado para o vizinho parece terminar ao fim do segundo parágrafo, com a promessa de silêncio feita pelo remetente – “[...] e prometo silêncio”. No entanto, pelo menos no texto, sua voz continua e a crônica prossegue. Identifique a palavra que marca a impossibilidade de o narrador conseguir se encaixar no modo de vida que critica e diga qual o seu valor semântico.





1.4 - A partir do terceiro parágrafo, percebemos uma posição diferente do narrador, que passa a sonhar com outra situação em relação, não só à sua vizinhança, mas também à vida na cidade grande. Qual tempo e modo verbal ele utiliza para expressar este desejo? O que a utilização desse modo verbal indica?



Texto 2








2 – Releia o último parágrafo do Texto 1 e o segundo quadrinho do Texto 2 para responder a questão abaixo.



Em ambos os trechos, é feita uma enumeração. No texto de Rubem Braga, há o uso de certo tempo e modo verbal para indicar um universo sonhado pelo autor da carta; já na tirinha, há o uso de outro modo verbal, para indicar uma situação oposta. Indique este modo verbal e, a partir de seu valor semântico, explique o recurso usado por Mafalda para preparar a morte do inseto.






Exercícios sobre Figuras de Linguagem

1- (Uerj) Leia o texto de Carlos Drummond de Andrade e, a seguir, responda à questão.

O marciano encontrou-me na rua

e teve medo de minha impossibilidade humana.

Como pode existir, pensou consigo, um ser

que no existir põe tamanha anulação de existência?

Afastou-se o marciano, e persegui-o.

Precisava dele como de um testemunho.

Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se

no ar constelado de problemas.

E fiquei só em mim, de mim ausente.



Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se

no ar constelado de problemas. (v. 7-8)


O estranhamento provocado no verso sublinhado constitui um caso de:


(A) pleonasmo

(B) metonímia

(C) hipérbole

(D) metáfora


2- (UEL)


Ambiciosa


Para aqueles fantasmas que passaram,

Vagabundos a quem jurei amar,

Nunca os meus braços lânguidos traçaram

O voo dum gesto para os alcançar ...

Se as minhas mãos em garra se cravaram

Sobre um amor em sangue a palpitar ...

– Quantas panteras bárbaras mataram

Só pelo raro gosto de matar!

Minha alma é como a pedra funerária

Erguida na montanha solitária

Interrogando a vibração dos céus!

O amor dum homem? – Terra tão pisada,

Gota de chuva ao vento baloiçada ...

Um homem? – Quando eu sonho o amor de um Deus! ...

(Adaptado de: ESPANCA, F. Sonetos. São Paulo: Martin Claret, 2007. p.78.)


No verso “minha alma é como a pedra funerária” (verso 9), temos um recurso poético denominado:


(A) Antítese.

(B) Metáfora.

(C) Símile.

(D) Sinestesia.

(E) Anáfora.


3- (UFRRJ/Adaptado) Paradoxo é um recurso semântico por meio do qual se relacionam expressões antônimas com a finalidade de conciliar conceitos contraditórios. Dentre as passagens abaixo, constitui um paradoxo


(A) "para pensar um belo pensamento"

(B) "para se ver chorando, e gostar de chorar"

(C)"e adormecer de lágrimas e luar"

(D)"Quem tivesse um amor sem dúvida nem mácula"

(E) "sem antes nem depois: verdade e alegoria..."


4- (FUVEST/USP) Leia a música abaixo e, a seguir, responda às questões a e b.


Uma palavra


Palavra prima

Uma palavra só, a crua palavra

Que quer dizer

Tudo

Anterior ao entendimento, palavra

Palavra viva

Palavra com temperatura, palavra

Que se produz

Muda

Feita de luz mais que de vento, palavra

Palavra dócil

Palavra d’água pra qualquer moldura

Que se acomoda em balde, em verso,

em mágoa

Qualquer feição de se manter palavra

Palavra minha

Matéria, minha criatura, palavra

Que me conduz

Mudo

E me escreve desatento, palavra

Talvez, à noite

Quase-palavra que um de nós murmura

Que ela mistura letras, que eu invento

Outras pronúncias do prazer, palavra

Palavra boa

Não de fazer literatura, palavra

Mas de habitar

Fundo                    

O coração do pensamento, palavra


                                                      Chico Buarque, Uma palavra. BMG/Ariola, 1995.


5(a). A palavra apresenta-se personificada, nos versos dessa letra de canção, transcritos em


(A) “Anterior ao entendimento, palavra”.

(B) “Palavra d´água pra qualquer moldura”.

(C) “E me escreve desatento, palavra”.

(D) “Quase-palavra que um de nós murmura”.

(E) “Outras pronúncias do prazer, palavra”.


5(b). Uma expressão usada pelo compositor para atribuir à palavra um sentido próprio, não figurado, é:


(A) “crua palavra”.

(B) “palavra com temperatura”.

(C) “feita de luz”.

(D) “palavra dócil”.

(E) “palavra minha”.


6- (Enem) Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, é autor de "Bicho urbano", poema sobre a sua relação com as pequenas e grandes cidades.

Bicho urbano

Se disser que prefiro morar em Pirapemas
ou em outra qualquer pequena cidade do país
estou mentindo
ainda que lá se possa de manhã
lavar o rosto no orvalho
e o pão preserve aquele branco
sabor de alvorada.
.....................................................................
A natureza me assusta.
Com seus matos sombrios suas águas
suas aves que são como aparições
me assusta quase tanto quanto
esse abismo
de gases e de estrelas
aberto sob minha cabeça.
                (GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1991)

Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das pequenas comunidades. Para expressar a relação do homem com alguns desses elementos, ele recorre à sinestesia, construção de linguagem em que se mesclam impressões sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa esse recurso.


(A) "e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada."
(B) "ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no orvalho"
(C) "A natureza me assusta. / Com seus matos sombrios suas águas"
(D) "suas aves que são como aparições / me assusta quase tanto quanto"
(E)  "me assusta quase tanto quanto / esse abismo / de gases e de estrelas"


7– (UFSCAR-SP) Para responder a esta questão, leia os versos:


E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

Mudaram as estações

Nada mudou.


É notória a oposição de ideias nos versos, o que significa que neles se encontra como principal figura de linguagem  a:


(A) metáfora

(B) antítese

(C) sinestesia

(D) metonímia

(E) catacrese


8- (UFPE) Observando as figuras de linguagem empregadas nos enunciados abaixo, podemos afirmar que a metáfora só NÃO apareceu em:

(A) Delegacia se afoga num mar de inquéritos.

(B) Fantasma do desemprego tecnológico assombra trabalhadores que vivem das atividades de calcinadoras a lenha.

(C) Dirigir falando no telefone celular aumenta quatro vezes o risco de colisões.

(D)De volta à moda e aos pés femininos, o elegante e famigerado salto alto reacende a fogueira da inquisição ortopédica.

(E) É grande o nó burocrático de museus e orquestras para liberar obras e instrumentos na alfândega.


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Gabarito Comentado do 1° Exame de Qualificação da UERJ 2013

1. LETRA C

“Orçamentário” é o adjetivo derivado de orçamento, que é um projeção de custos e investimentos. Quando fazemos uma obra, por exemplo, calculamos o seu orçamento, ou seja, quanto se estima gastar nessa obra.

Já com essa ideia de que “orçamento” tem a ver com dinheiro, gastos, é coerente pensarmos na letra “c” – aspecto econômico. Isso, portanto, já seria suficiente para que acertássemos a questão.

Contudo, podemos ir além, desenvolvendo mais o raciocínio. A imagem que se observa da “obra de arte” é a de um rasgo, ou um rombo em destaque (na verdade, é a única coisa que se vê na tal obra). O adjetivo “realista” deixa claro que se trata de algo que, de fato, se vive, algo de acordo com a realidade. Ou seja, a “obra de arte” – a peça – mostra que o orçamento, que é real, que está de acordo com a realidade que vivemos, teve um rombo. Em outras palavras, que, devido a gastos econômicos, que a economia do país está desfalcada. Há, portanto, uma crítica à condução da economia do país.


2.  LETRA A

Acontece nesta questão algo muito recorrente nas questões da UERJ: as quatro alternativas estão coerentes com o texto, contudo apenas uma atende ao que o enunciado pede. Vale a pena ressaltar que o “distanciamento” do qual a questão fala é na verdade uma discordância, no caso, não concordância com as concepções da arte moderna.

Em relação à letra b: a frase declarativa ocorre quando o emissor da mensagem constata um fato: pintam um quadro com um rombo no meio e acham uma obra-prima...Pensando bem, o simples fato de se declarar alguma coisa não quer dizer necessariamente que estamos nos distanciando (criticando o tema, não o corroborando) dela. Apesar de essa segunda fala marcar, sim, um distanciamento, ele não é conseqüência de a frase ser declarativa. (Vamos pensar, se a frase fosse exclamativa, ela ainda sim marcaria um distanciamento)

Em relação à letra d: a simples descrição de um objeto também não revela qualquer distanciamento. Se, contudo, essa descrição fosse uma descrição subjetiva, aquela que depende do sujeito que a está fazendo, aí sim, seria uma descrição que mostrasse o tal distanciamento em relação à arte moderna.

O gabarito é a letra a: quando o personagem usa o verbo achar na 3ª pessoa (“acham uma obra-prima”), ele atribui aquela opinião – a de o quadro ser uma obra-prima – aos outros, e não a ele mesmo. Pensem nesse mesmo verbo usado na 1ª pessoa: acho uma obra-prima. Nesse caso, aí sim, o personagem estaria se comprometendo, estaria dando a sua opinião de que ele também acha que aquilo se trata de uma obra-prima.


3. LETRA D

Uerj, mais uma vez, ajudando o pessoal que não teve tempo de estudar, dando o conceito de metalinguagem no próprio enunciado da questão: o narrador “comenta na sua ficção o próprio ato de compor uma ficção”. Ou seja, pra resolver a questão era só achar uma alternativa que falasse da própria obra que estava ali sendo escrita. A única alternativa quetrata do ato de compor uma ficção, usando – para isso – termos próprios desse ato é a letra d: “Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a incolor, comum.”


4. LETRA C

A resposta dessa questão está precisamente nas linhas 2 e 3: “são (...) de uma lastimável limitação de ideias, cheios de fórmulas, de receitas, capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar.” Ideias limitadas, excesso de fórmulas e incapacidade de generalizar são expressões que revelam uma característica dos literatos: eles não inovam; pelo contrário, só conseguem repetir as mesmas ideias e fórmulas já batidas. Essa ideia está expressa na letra C: “repetir regras consagradas”.

5. LETRA D

A princípio, poderíamos pensar na letra a como gabarito, pois ao usar o verbo “confessar”, na primeira pessoa, o narrador assume ter feito algo que, aparentemente, ele mesmo critica (ler e estudar outros autores). Mas essa uma é daquelas questões que a Uerj gosta de fazer, em que somos tentados a ler e interpretar os trechos destacados fora do contexto. “Ora, se o trecho já foi destacado, então nem preciso voltar no texto... a resposta está aqui mesmo”. Contudo, continuando a leitura do fragmento, vemos que o narrador , depois de dar a impressão de que também erra ao ler e estudar modelos e normas, diz que “não é a ambição literária” que o move, ao contrário daquelas a quem ele chama “literatos”. Ou seja, o narrado parece fazer um julgamento autocrítico, mas logo depois de justifica. Na prática, ele está usando a estratégia de contra-argumentação do tipo concessão, que você já conhece.

Na letra D, Isaías Caminha (o narrador) fala da impossibilidade de um escritor qualquer, mesmo sendo hábil, de dizer o que ele (Isaías) sentira. Depois, fala de si mesmo: afirma que  ele próprio, o indivíduo que sofrera e pensara sobre aqueles sentimentos, também não saberia dizê-los, ou seja, não saberia escrever sobre eles. Nesse momento, ele se assume, sem ressalvas, que também tem lá suas limitações. Gabarito letra D, portanto.


6. LETRA A

Visto em nossas aulas: métodos argumentativos. O tipo de raciocínio que parte de um caso particular (“fatos detalhados”) e tira dali uma regra geral (“impotentes para generalizar”) é o indutivo (página 20, módulo 1). Letra A, portanto.


7. LETRA D

Adição = adicionar, acrescentar ideias. A alternativa que trouxesse qualquer palavra com esse sentido de acréscimo seria o gabarito. À exceção da letra D, nenhuma alternativa traz uma palavra com essa semântica. Na letra d, a palavra com esse valor semântico de adição, acréscimo é “também”. Gabarito letra d, portanto.

OBS: O conector aditivo “mas também” muitas vezes forma um par com a expressão “não só” (facilmente inferível da primeira oração: que ela não só tenha a sorte que merecer, mas que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil.) Dessa forma, o “também” está somando o fato de ter a sorte que merecer ao fato de despertar um escritor mais hábil.


8. LETRA B

O narrador vem o tempo inteiro falando da incapacidade e inabilidade de seus companheiros de escritório. No período anterior ao destacado na questão, ele deixa mais clara ainda sua opinião sobre os companheiros: “dignos de indiferença”. Contudo, apesar dessa indiferença, o narrador sente dores, se angustia.  E seus companheiros, orgulhosos do que conseguiram escrever, seriam capazes apenas de tecer críticas destrutivas em relação ao livro que Isaías estava escrevendo, gerando espanto e atitudes sarcásticas por parte deles. Todos esses sentimentos: dor, angústia, espanto e sarcasmo (os dois últimos por parte de terceiros), revelam que o narrador se sente magoado com toda essa situação. Gabarito letra b.


9. LETRA A

A opinião de Marcelo Gleiser é que não é absolutamente necessário que um filme tente ao máximo ser fiel à ciência que retrata. O autor do texto muda sua opinião (“muda” porque ele nem sempre pensou assim, como podemos perceber pelo 3º parágrafo: Até recentemente, defendia a posição mais rígida, que filmes devem tentar ao máximo ser fiéis à ciência que retratam) porque admite que existe uma diferença crucial entre um filme comercial e um documentário científico. Para chegar a esse raciocínio, vocês podem se fazer a seguinte pergunta: o narrador muda de opinião porque...

1 - “documentários devem retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população” ? Não parece coerente;

2 –“ filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciência têm enorme valor cultural” ? Na verdade, esse argumento fundamentaria a opinião anterior, e não a nova;

3 – “as pessoas vão ao cinema esperando uma ciência crível” ? Esse argumento também fundamentaria a opinião anterior do narrador, e não a nova.

Gabarito letra A, portanto.


10. LETRA C

Nesta questão, todos os pares de vocábulos são opostos entre si, porém apenas um deles corresponde à tal oposição estudada no campo da literatura: a ciência corresponderia à “verdade”, ao que se pode observar na realidade; Hollywood corresponderia à verossimilhança, ao que é provável, plausível de acontecer – no caso – num filme de Hollywood.

A ciência é aquela que pode atestar que o que acontece é verdade, ou então explicar o que acontece na realidade: uma explosão sem som, por exemplo. Já Hollywood, descompromissado com a ciência, ou seja, com uma realidade observável, pode, sim, mostrar uma explosão no vácuo com som pois isso é verossímil naquele universo ficcional que ela propõe.


11. LETRA B

Mais uma vez a concessão aparece como estratégia de contra-argumentação. E mais uma vez a UERJ ajudando quem esqueceu o que é a concessão, contra-argumentação ou até mesmo argumentação e suas estratégias. Nós vimos, nas nossas aulas, que o elemento introdutor de uma concessão, ou aquele que vai marcar a tal negação da contra-tese, são palavras como mas, porém, contudo, todavia, entretanto, embora etc. Ficamos então entre as letras B e D. Contudo, na letra D, não se estão reconhecendo fatos contrários ao ponto de vista defendido. Na verdade, a letra D só traz a negação ou a redução desses fatos. Letra B: A tese dele é a de que filmes de ficção não tendem a ser fiéis à ciência. A contratese, como ponto de vista contrário a tese, é então a de que filmes de ficção são fiéis à ciência. Vejam que, primeiro, se reconhece a contratese (Pode ser que existam alguns), por isso, nesse primeiro momento, o enunciador parece CONCEDER a razão a alguém que dele discorde (em outras palavras, conceder a razão a alguém que defenda a contratese). Contudo, num segundo momento NEGA essa razão, tirando-a de seu oponente, ao dizer que se existirem não

fizeram muito sucesso. É esse movimento de primeira dar a razão para o oponente para depois tirá-la dele é que caracteriza a concessão.


12. LETRA C

O segredo da questão é a palavra “identificação”, que revela serem as ideias “localidade dos Estados Unidos que concentra empresas do ramo cinematográfico” e “indústria cinematográfica” do mesmo campo semântico. Ora, se em Hollywood (um distrito da cidade de Los Angeles) há uma grande concentração de empresas do ramo cinematográfico, posso chamar esse ramo cinematográfico de Hollywood? Posso! Há uma relação de afinidade, de “identificação” entre as duas ideias. Posso, portanto, substituir, representar uma pela outra: representação de uma ideia por outra, com ambas pertencendo ao mesmo campo semântico – metonímia. Gabarito letra C, portanto.


13.  LETRA B

As sobrancelhas levantadas revelam a indiferença com que os cientistas encaram as distorções feitas pelo cinema; o público,contudo, por não ligar para a ciência, esbugalha os olhos. Ou seja, o público não se importa se aquilo está, de acordo com a ciência, certo ou não; ele só se admira daqueles efeitos – e tal admiração é indicada pelos olhos arregalados. Letra B, portanto.


14. LETRA D

Em todas as alternativas (com exceção da letra B, em que há apenas uma asserção), vemos generalizações: “Sempre vemos explosões gigantescas, estrondos fantásticos”; “Óbvio, documentários devem retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população”.

A única alterativa em que o autor evita uma generalização, admitindo uma exceção, é a letra D. Generalização: “as pessoas não vão ao cinema para serem educadas”; admissão de exceção: “ao menos como via de regra”.


15. LETRA C

Quando o autor falar em exageros, fala também de distorções. Distorções essas que não devem ser criticadas porque é natural para o cinema (“a arte”) distorcer, exagerar, não se preocupa com a verdade para poder convencer ao telespectador, não de que determinado fato seja real ou possível, mas convencer, por exemplo, num sentido de “educar as emoções” (linha 22). Gabarito letra C.


Mais exercícios!!!

Texto 1:

Segurança

O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.

Mas os assaltos começaram assim mesmo.

 Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas. Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.

Mas os assaltos continuaram.

 Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordens de atirar para matar.

Mas os assaltos continuaram.

 Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas.

Mas os assaltos continuaram.

 Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle das saídas. Para sair, só com um exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.

Mas os assaltos continuaram.

Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

E ninguém pode sair.

Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades da sua casa, olhando melancolicamente para a rua.

Mas surgiu outro problema.

As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade. A guarda tem sido obrigada a agir com energia.

(Luis Fernando Verissimo. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001).


1 - Ao longo do texto, são intercalados parágrafos curtos, formados por apenas uma frase, e parágrafos que explicitam as tentativas de solução dos moradores para o problema que enfrentam. Qual valor semântico se estabelece entre esses dois tipos de parágrafos?


2 - Que palavra do parágrafo curto assegura e enfatiza o valor semântico acima nomeado?


3 - “Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas”.

 Em relação ao trecho acima:

 a) Aponte o valor semântico da conjunção e.

b) Explique o efeito de sentido da repetição da conjunção e na construção de sentido do texto.


4.1 - Ao fim do texto, cessa a regularidade entre os parágrafos. Diga a partir de que frase isso acontece, explicitando o modo e o tempo verbal que passam a predominar na narração.

4.2 – Que mudanças estes novos modo e tempo verbal acarretam na narrativa?


Texto 2:



 (Retirado de: http://www.revistaboemia.com.br/Pagina/Default.aspx?IDPagina=264)



Texto 3:

 Condomínio de luxo é assaltado na zona sul de São Paulo



Um condomínio de luxo foi assaltado no fim da manhã desta quarta-feira (19) no bairro Vila Andrade, região do Morumbi, Zona Sul de São Paulo. Pelo menos três homens entraram em uma das três torres, a dos fundos, do condomínio localizado na Avenida Dona Helena Pereira de Moraes.

(...)

De acordo com o aspirante a oficial da Polícia Militar Caio Teizen, o assalto teve início por volta das 9h desta quarta-feira. Ao menos dois apartamentos foram roubados. Os três homens armados e encapuzados renderam uma funcionária e invadiram o primeiro apartamento. Depois, entraram no segundo apartamento, mantendo em cárcere privado dois moradores, dois empregados deles e mais a empregada que já havia sido rendida anteriormente. Foram roubados computadores e pequenas quantias em dinheiro, segundo Teizen.

(...)

A segurança é feita por uma empresa particular e o condomínio conta com um sistema de vigilância por câmeras. Apesar de os invasores terem subido encapuzados, em momento algum os vigias perceberam a movimentação estranha no prédio. Antes de deixarem o segundo apartamento, o trio amarrou os cinco reféns, que só conseguiram se libertar e chamar a polícia depois de 50 minutos.






5 - A partir da leitura dos textos 2 e 3, podemos afirmar que:


A - As novas tecnologias têm servido para reforçar a segurança domiciliar.

B – As casas são mais seguras que os condomínios, embora estes possuam diversos recursos de segurança.

C – As diversas medidas adotadas para garantir a segurança das residências não têm se mostrado eficazes.

D - Não é possível estabelecer relação entre os textos, já que o primeiro apresenta uma casa, ao passo que o segundo trata de um condomínio.



6 - Pode-se afirmar que uma temática comum aos três textos é:


A - A relação do homem contemporâneo com o caos urbano.

B - O sentimento de insegurança dentro das próprias residências.

C - A insegurança presente nos condomínios de luxo.

D – Os novos recursos empregados para o reforço da segurança residencial.

Exercício de conectivos

Texto  I

 

Tudo Menos Amor (Martinho da Vila)

 

Tudo que quiseres
te darei, ó flor
menos meu amor.
Darei carinho
se tiveres a necessidade
e peço a deus para lhe dar
muita felicidade.
Infelizmente,
só não posso ter-te
para mim
coisas da vida
é mesmo assim.
Embora saiba
que me tens tão grande adoração
eu sigo a ordem
e essa é dada por meu coração.
Neste romance,
existem lances sensacionais
mas te dar o meu amor, jamais.
A gente ama verdadeiramente
uma vez,
outras são puras fantasias.
Digo com nitidez.
Mais uma história de linguagens
sensíveis e reais.
O que quiseres.
Mas, o meu amor, jamais
tudo que quiseres.


1) Muitas canções brasileiras tratam de amor. O texto acima aborda essa temática de maneira convencional? Relacione sua resposta com o título da canção.


2) Levando em consideração que a segunda pessoa do discurso representa, no ato de comunicação, a pessoa com quem se fala, e que podemos identificá-la através de pronomes, verbos e vocativos, retire do texto duas marcas de interlocução que comprovem esse diálogo.


3) A construção de sentido na canção é fortemente marcada pela presença dos conectivos. Diga o valor e explique o uso do conectivo grifado:
“Darei carinho se tiveres a necessidade”


4) Levando em consideração que podemos construir o valor de oposição tanto com conectivos adversativos (mas, porém, contudo, entretanto etc) como com conectivos concessivos (embora, ainda que etc), justifique o uso do “embora” na letra a e o uso do “mas” na letra b.

a) “Embora saiba que me tens tão grande adoração, eu sigo a ordem e essa é dada por meu coração”

b) “Neste romance, existem lances sensacionais, mas te dar o meu amor, jamais.”


5) Dê o valor semântico das preposições em destaque:

a) só não posso ter-te para mim.

b) e essa é dada por meu coração.


Texto II

“Minha saúde não é de ferro
Mas meus nervos são de aço
Prá pedir silêncio eu berro
Prá fazer barulho
Eu mesma faço
Ou não!...”

Rita lee -  Jardins da babilônia

6) O trecho da canção de Rita Lee apresenta um conector em negrito. Dê o seu valor semântico e justifique seu emprego explicando a relação estabelecida entre a saúde e os nervos do eu-lírico.


Texto III

Se os duetos não se encontram mais
E os solos perderam a emoção
Se acabou o gás
Para cantar o mais simples refrão

Se a gente nota
Que uma só nota
Já nos esgota
O show perde a razão
Mas iremos achar o tom
Um acorde com lindo som
E fazer com que fique bom
Outra vez o nosso cantar
E a gente vai ser feliz
Olha nós outra vez no ar
O show tem que continuar


7)  A canção acima “O show tem que continuar”, Fundo de Quintal, apresenta alguns conectivos em negrito. Assinale a opção que apresenta seus respectivos valores:

a) consequência, adição, finalidade, oposição, companhia.

b) condição, oposição, consequência, adição, companhia.

c) explicação, oposição, destino, concessão, conteúdo.

d) condição, adição, finalidade, oposição, conteúdo.


Texto IV

“Quando a gente ama,
A gente fica meio bobo,
É normal, eu sei
Mas esse é meu momento,
Vou usar o meu talento,
Pra me declarar

Tudo pra te impressionar
Se liga que o pretinho quer te conquistar
Se eu te der carinho você vai gostar”

Buquê de Flores  - Thiaguinho




8) Levando em consideração que  “pra” é a forma coloquial para a preposição “para”, diga se o valor semântico é o mesmo nas duas ocorrências que aparecem no trecho da canção acima. Justifique sua resposta.

9) O termo “se” aparece nos dois últimos versos do trecho acima. Levando em consideração que eles apresentam funções e valores distintos, retire o verso em que se trata de um conectivo e dê seu valor semântico.