Explicação
teórica sobre Semântica dos modos e tempos verbais
In
principio erat uerbum
Passaremos a estudar agora o verbo, sob o ponto de vista da
semântica.
1.1 Mas o
que é semântica?
Quando falamos em semântica, falamos
em significação. Ora, quando digo
que vamos estudar a semântica dos modos e tempos verbais, quero dizer que
estudaremos o que eles significam, quais os significados que carregam.
Estudaremos as semânticas dos
modos e tempos verbais, isto quer dizer que estudaremos o que cada modo e cada
tempo significam.
2. Semântica dos MODOS e TEMPOS verbais
O modo verbal é aquilo que
vai mostrar minha posição de dúvida, de certeza, de desejo, de ordem a
respeito da ação expressa pelo verbo. Vamos ver como funciona na prática?
2.1 Modo Imperativo
O que é imperar? Segundo o dicionário
é dominar, governar, reinar, estabelecer.
Pensando assim, entendemos a semântica (agora que já sabemos que semântica é o
mesmo que significação) deste modo. O imperativo
é o modo que dá uma ordem, um
conselho, uma dica, uma súplica, uma sugestão ou faz um pedido.
Ex.: Faça o dever.
Leia com atenção.
Pare.
Não faça isso.
Não confiemos tanto nas pessoas.
Não desistamos de nossos ideais.
Leia com atenção.
Pare.
Não faça isso.
Não confiemos tanto nas pessoas.
Não desistamos de nossos ideais.
-> Estudamos o tipo textual injuntivo e vemos que ele é o tipo textual usado por
quem dá uma ordem. Dissemos que ele
utiliza o modo verbal imperativo. Agora tudo ficou mais claro, não?
-> Outra
observação a respeito do imperativo é a confusão que podemos fazer ao usá-lo no
“nós”, por não estarmos acostumados a conjuga-lo desta maneira. Uma dica é
transpor para a segunda ou terceira pessoa do singular, para que vejamos com
mais clareza que é uma forma imperativa e não confundamos com o subjuntivo.
Além disso, veremos mais à frente que o subjuntivo depende sempre de uma subordinação, o que não ocorre com o
subjuntivo.
Não desistamos de nossos ideais. ~> Não desista de seus
ideais.
Não confiemos tanto nas pessoas. ~> Não confie tanto nas pessoas.
Não confiemos tanto nas pessoas. ~> Não confie tanto nas pessoas.
O modo imperativo é formado a partir do presente do indicativo
e ele não se subdivide em tempos.
2.2 Modo Subjuntivo
O modo subjuntivo está ligado à
subjetividade. Subjetividade diz respeito aos nossos julgamentos de
valor, às nossas opiniões, à nossa singularidade de pensamento. O modo subjuntivo sempre vai exprimir uma
avaliação subjetiva das ações expressas pelo verbo; portanto, ele é o modo da
incerteza, do desejo, da possibilidade. A semântica do subjuntivo nunca será de
certeza, mas sempre de possibilidade, dúvida,
irrealidade.
Ex.: Espero que ele venha.
Quero que ele venha.
Se ele viesse seria muito bom.
Se você fizesse o dever regularmente, tudo seria mais fácil.
Quero que ele venha.
Se ele viesse seria muito bom.
Se você fizesse o dever regularmente, tudo seria mais fácil.
-> Como já
dissemos antes, o verbo no subjuntivo tem uma particularidade. Ele ocorre
somente em estruturas subordinadas. O que isso quer dizer? Isso quer dizer que
ele vai aparecer em uma estrutura dependente de um outro verbo – quero
(verbo do qual o subjuntivo
depende) que ele venha (subjuntivo), ou dependente de um nome –
talvez (nome do qual o subjuntivo depende) ele venha (subjuntivo).
-> O modo
subjuntivo se subdivide em três tempos: presente, futuro e pretérito imperfeito.
Não daremos tanta importância à semântica desses tempos pois não é o foco do
vestibular; falaremos apenas das marcas
formais que os identificam.
2.2.1 Presente do Subjuntivo
Marcas formais que o identificam: E/A
Ex.: Quero que você trabalhe.
Tomara que ele venha.
Ex.: Quero que você trabalhe.
Tomara que ele venha.
2.2.2 Futuro do Subjuntivo
Marca formal que o identifica: R
Ex.: Quando eu chegar, abra a porta.
Se eu for, te avisarei antes.
Ex.: Quando eu chegar, abra a porta.
Se eu for, te avisarei antes.
2.2.2 Pretérito Imperfeito do Subjuntivo
Marcas formais que o identificam: SSE
Ex.: Se você deixasse, eu iria.
Se eu pudesse, eu faria.
Ex.: Se você deixasse, eu iria.
Se eu pudesse, eu faria.
2.3 Modo Indicativo
O modo indicativo é o mais
versátil. Ele é o único que afirma,
que fala com certeza. Porém, isso não impede que ele possa trabalhar também com
a dúvida e com a possibilidade.
Ex.: Eu sei que ele vem.
Eu acho que tudo dará certo.
Eu fiz todo o dever.
Eu não saí ontem.
Eu acho que tudo dará certo.
Eu fiz todo o dever.
Eu não saí ontem.
Além disso, vimos que o modo subjuntivo somente ocorre em uma
estrutura subordinada, dependente de um nome ou de um outro verbo. O
indicativo, por sua vez, pode ou não
ocorrer em uma estrutura subordinada.
Ex.: Eu não sei
nada da matéria! (estrutura sem subordinação, não depende de nenhuma outra)
Eu quero que tudo dê certo.
Eu quero que tudo dê certo.
O dê está subordinado ao verbo quero,
não poderia existir sem ele. Não existe a frase tudo dê certo, parece que falta algo, não é? Essa sensação de que
falta algo é por causa da subordinação.
O modo indicativo se divide em
presente, pretérito e futuro e os tempos pretérito e futuro se subdividem
também. Vamos ver.
2.3.1 Presente do Indicativo
Tempo verbal é a categoria que
indica quando aconteceu a ação expressa pelo verbo, em relação a outro marco
temporal. Em geral, os fatos são considerados no tempo em relação à enunciação,
ou seja, ao momento em que se fala. Porém, há dois tempos no modo indicativo um
pouco diferentes e que veremos mais à frente. Por enquanto, vamos nos deter ao
presente do indicativo.
Vimos que o modo indicativo é o mais versátil,
devido às variadas semânticas que ele possui em relação aos outros modos. Agora
vamos ver que o presente do indicativo
é o tempo mais versátil em relação aos outros tempos, é o que possui a maior
quantidade de possibilidades semânticas, é o que pode adquirir maior quantidade
de significados.
a) Rotina
O presente do indicativo pode indicar um fato rotineiro, que costuma acontecer com frequência.
Ex.: Sempre acordo
às 6 da manhã.
Eu estudo todos os dias.
Eu estudo todos os dias.
b) Fato simultâneo ao momento da fala
O presente do indicativo pode indicar um fato que está acontecendo no momento em que se fala.
Ex.: Vagner Love chuta
a bola para o gol.
Estou na casa de uma amiga.
Estou na casa de uma amiga.
c) Passado
O presente do indicativo pode indicar um fato que já ocorreu. Em geral,
o tipo textual narrativo usa muito o presente com a intenção de aproximar a história do leitor, fazer
com que o leitor sinta que está assistindo à história, participando dela.
Ex.: Em 1808, a família real chega ao Brasil.
Após falar isso, Isabela sai, sem ao menos olhar pra trás.
Após falar isso, Isabela sai, sem ao menos olhar pra trás.
d) Futuro
O presente do indicativo pode indicar um fato que ainda vai ocorrer, este uso é muito comum na
linguagem coloquial, no nosso falar cotidiano.
Ex.: Na próxima semana eu vou à sua casa.
Amanhã eu te ligo sem falta.
Amanhã eu te ligo sem falta.
e) Verdade absoluta
O presente do indicativo pode indicar uma verdade absoluta, um fato
constante e que todos concordam, uma verdade universal.
Ex.: A terra gira
em torno do sol.
A água ferve a 100ºC.
A água ferve a 100ºC.
2.3.2 Pretérito Perfeito do Indicativo
O pretérito perfeito do
indicativo, assim como o presente do indicativo, não possui marca formal de modo ou tempo que o
identifique. Passemos, então, à análise de seus possíveis significados.
O pretérito perfeito do
indicativo é o tempo que indica um passado pontual, um fato que aconteceu e já
está acabado. Porém, ele pode também
indicar um fato com aspecto durativo, com uma semântica de continuidade.
Vejamos.
a) Fato pontual no passado
Fato pontual no passado é um fato
que aconteceu em um momento e terminou, não teve uma duração estendida, sendo,
por isto, pontual.
Ex.: Ele pulou
alto.
Joguei futebol ontem.
Joguei futebol ontem.
b) Fato durativo no passado
Fato durativo é aquele que teve
uma duração, ou seja, ocorreu durante algum tempo, mesmo que pequeno.
Ex.: Falei no
telefone por horas.
Ela leu durante três horas.
Ela leu durante três horas.
2.3.3 Pretérito Imperfeito do Indicativo
Enquanto o pretérito perfeito
pode indicar uma ação que foi concluída no passado, com aspecto durativo ou
não, o pretérito imperfeito só pode
indicar uma ação com aspecto durativo, uma ação que ocorreu por certo tempo,
por isso se chama imperfeito, pois a ação que ele indica não foi finalizada
imediatamente, mas demorou algum tempo para ser finalizada ou a ação costumava acontecer.
Ex.: Eu jogava
bola todos os dias.
Eu lia muito na biblioteca.
Eu lia muito na biblioteca.
Marcas formais que o identificam: VA/VE/IA/IE
Ex.: Eu cantava
muito no karaokê antigamente.
Vós faláveis demais.
Ela lia sem parar Harry Potter.
Vós vendíeis bem antigamente.
Vós faláveis demais.
Ela lia sem parar Harry Potter.
Vós vendíeis bem antigamente.
2.3.4 Pretérito Mais Que Perfeito do Indicativo
Quando começamos nossa conversa
sobre tempo verbal, dissemos que a
maioria dos tempos se refere ao momento em que se fala, porém temos exceções.
São duas as exceções, uma é o futuro do
pretérito, que veremos mais à frente e a outra exceção é o pretérito mais que perfeito. Esses dois
tempos não se referem ao momento da enunciação, ou seja, ao momento em que se
fala, mas se referem a um momento indicado
por um outro verbo.
O pretérito mais que perfeito do
indicativo não está em relação ao momento da fala, mas a um outro verbo também
no pretérito. A ação que o pretérito mais que perfeito indica, ocorreu antes de uma outra, também no
passado, por isso ele é chamado de pretérito
mais que perfeito, pois ele é passado em relação a um outro fato também
ocorrido no passado.
Ex.: O pai chegou ao local em que o acidente acontecera.
A ação expressa pelo verbo no
pretérito mais que perfeito acontecera,
ocorreu antes da ação expressa pelo verbo no pretérito perfeito chegou.
Ex.: Ela já fizera
o que lhe pedi quando lhe telefonei.
Nós já partíramos quando você chegou, desculpe-nos!
Nós já partíramos quando você chegou, desculpe-nos!
->
Atualmente, o pretérito mais que perfeito não é utilizado na fala e tem sido
pouco utilizado, inclusive, na escrita, se restringindo à linguagem poética (Pudera não ser tão voluptuosa!);
na fala, tende a ser substituído por uma locução de particípio com verbo
auxiliar ter ou haver no pretérito imperfeito:
Ex.: Ela já fora
quando eu cheguei. (pretérito mais que perfeito)
Ela já tinha ido quando eu cheguei. (locução verbal: auxiliar ter no pretérito imperfeito + particípio)
Ela já tinha ido quando eu cheguei. (locução verbal: auxiliar ter no pretérito imperfeito + particípio)
Ele já fizera o
trabalho quando lhe telefonei. (pretérito mais que perfeito)
Ele já havia feito o trabalho quando lhe telefonei. (locução verbal: auxiliar haver no pretérito imperfeito + particípio)
Ele já havia feito o trabalho quando lhe telefonei. (locução verbal: auxiliar haver no pretérito imperfeito + particípio)
-> O
pretérito mais que perfeito tem outra particularidade. Além de ele ocorrer em
relação a um outro passado, ele pode também ocorrer em expressões exclamativas,
algumas cristalizadas, como, por exemplo,
Quem me dera! Algumas dessas
expressões exclamativas ainda permanecem em uso.
Marcas formais que o identificam: RA/RE (átonos)
Ex.: Eu já fizera
todo o trabalho sozinha quando você me ofereceu ajuda.
Vós vendêreis todo o estoque antes de o novo chegar.
Vós vendêreis todo o estoque antes de o novo chegar.
2.3.5 Futuro do Presente do Indicativo
O futuro do presente do
indicativo representa uma ação posterior ao momento em que se fala. Ele pode
ter três semânticas. Vejamos
a) Futuro em relação ao momento em que se fala
O futuro do presente pode indicar
um fato que ocorrerá após o momento da enunciação
Ex.: Amanhã vencerei
o jogo, não há dúvida.
Amanhã irei à sua casa pela manhã.
Amanhã irei à sua casa pela manhã.
b) Dúvida
O futuro do presente pode indicar
dúvida de quem fala em relação a um fato. Ocorre em frases interrogativas.
Ex.: Será ela a
pessoa certa?
Tudo dará certo amanhã?
Tudo dará certo amanhã?
c) Ordem
O futuro do presente pode indicar
uma ordem, equivalendo semanticamente
ao imperativo.
Ex.: Não matarás.
Não roubarás.
Não roubarás.
Marcas formais que identificam o futuro do presente do
indicativo: RA/RE (tônicos)
Ex.: Amanhã estudarei
o dia inteiro.
Tem certeza de que fará isso?
Tem certeza de que fará isso?
2.3.6 Futuro do Pretérito do Indicativo
O futuro do pretérito não indica
um fato futuro em relação ao momento da enunciação, mas um fato futuro em
relação a um fato expresso por um outro verbo. Por isso se chama futuro do
pretérito, pois ocorreu depois de
uma ação do passado; é futuro em relação a esta ação.
Ex.: Eu sabia que ela iria à casa de minha amiga.
O verbo no futuro do pretérito iria refere-se a um fato que aconteceu
depois do fato expresso pelo verbo no pretérito imperfeito sabia. Ir,
portanto, é futuro em relação a saber.
Ex.: Eu tinha certeza de que ela faria isso.
Ele contaria tudo se eu não chegasse a tempo.
Ele contaria tudo se eu não chegasse a tempo.
->
Atualmente, o futuro do pretérito não é utilizado na fala, sendo substituído pelo
pretérito imperfeito do indicativo:
Ex.: Eu sabia que ela iria à casa de minha amiga. (futuro do pretérito)
Eu sabia que ela ia à casa de minha amiga. (pretérito imperfeito)
Eu sabia que ela ia à casa de minha amiga. (pretérito imperfeito)
Se ele soubesse os detalhes, contaria-me tudo. (futuro do
pretérito)
Se ele soubesse de detalhes, contava-me tudo. (pretérito imperfeito)
Se ele soubesse de detalhes, contava-me tudo. (pretérito imperfeito)
O futuro do pretérito pode ter,
ainda, outras significações
a) Polidez
O futuro do pretérito pode ser
utilizado para pedir um favor, fazer uma solicitação de forma educada.
Ex.: Você me emprestaria
sua caneta?
Você me faria esse favor?
Você me faria esse favor?
b) Dúvida
O futuro do pretérito poder
indicar dúvida, incerteza.
Ex.: Seria ela a pessoa ideal para o cargo?
Seríamos nós os vencedores?
Seríamos nós os vencedores?
c) Afastamento do que está sendo dito
O futuro do pretérito pode ser
utilizado com a finalidade de afastamento do que se diz, o enunciador (quem
fala) produz uma sentença de dúvida, mas como se aquela opinião não fosse dele,
como se aquela opinião fosse de outras pessoas e ele apenas a estaria
transmitindo.
Ex.: Segundo alguns disseram, João seria o culpado.
Ana disse que Mariana viria aqui, eu não sei.
Ana disse que Mariana viria aqui, eu não sei.
Marcas formais que identificam o futuro do presente do
indicativo: RIA/RIE
Ex.: Ele acreditou que chegaria a tempo.
Comeríeis melhor se não fosseis a um restaurante fast food.
Comeríeis melhor se não fosseis a um restaurante fast food.
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