quinta-feira, 28 de junho de 2012

Gabarito Comentado do 1° Exame de Qualificação da UERJ 2013

1. LETRA C

“Orçamentário” é o adjetivo derivado de orçamento, que é um projeção de custos e investimentos. Quando fazemos uma obra, por exemplo, calculamos o seu orçamento, ou seja, quanto se estima gastar nessa obra.

Já com essa ideia de que “orçamento” tem a ver com dinheiro, gastos, é coerente pensarmos na letra “c” – aspecto econômico. Isso, portanto, já seria suficiente para que acertássemos a questão.

Contudo, podemos ir além, desenvolvendo mais o raciocínio. A imagem que se observa da “obra de arte” é a de um rasgo, ou um rombo em destaque (na verdade, é a única coisa que se vê na tal obra). O adjetivo “realista” deixa claro que se trata de algo que, de fato, se vive, algo de acordo com a realidade. Ou seja, a “obra de arte” – a peça – mostra que o orçamento, que é real, que está de acordo com a realidade que vivemos, teve um rombo. Em outras palavras, que, devido a gastos econômicos, que a economia do país está desfalcada. Há, portanto, uma crítica à condução da economia do país.


2.  LETRA A

Acontece nesta questão algo muito recorrente nas questões da UERJ: as quatro alternativas estão coerentes com o texto, contudo apenas uma atende ao que o enunciado pede. Vale a pena ressaltar que o “distanciamento” do qual a questão fala é na verdade uma discordância, no caso, não concordância com as concepções da arte moderna.

Em relação à letra b: a frase declarativa ocorre quando o emissor da mensagem constata um fato: pintam um quadro com um rombo no meio e acham uma obra-prima...Pensando bem, o simples fato de se declarar alguma coisa não quer dizer necessariamente que estamos nos distanciando (criticando o tema, não o corroborando) dela. Apesar de essa segunda fala marcar, sim, um distanciamento, ele não é conseqüência de a frase ser declarativa. (Vamos pensar, se a frase fosse exclamativa, ela ainda sim marcaria um distanciamento)

Em relação à letra d: a simples descrição de um objeto também não revela qualquer distanciamento. Se, contudo, essa descrição fosse uma descrição subjetiva, aquela que depende do sujeito que a está fazendo, aí sim, seria uma descrição que mostrasse o tal distanciamento em relação à arte moderna.

O gabarito é a letra a: quando o personagem usa o verbo achar na 3ª pessoa (“acham uma obra-prima”), ele atribui aquela opinião – a de o quadro ser uma obra-prima – aos outros, e não a ele mesmo. Pensem nesse mesmo verbo usado na 1ª pessoa: acho uma obra-prima. Nesse caso, aí sim, o personagem estaria se comprometendo, estaria dando a sua opinião de que ele também acha que aquilo se trata de uma obra-prima.


3. LETRA D

Uerj, mais uma vez, ajudando o pessoal que não teve tempo de estudar, dando o conceito de metalinguagem no próprio enunciado da questão: o narrador “comenta na sua ficção o próprio ato de compor uma ficção”. Ou seja, pra resolver a questão era só achar uma alternativa que falasse da própria obra que estava ali sendo escrita. A única alternativa quetrata do ato de compor uma ficção, usando – para isso – termos próprios desse ato é a letra d: “Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a incolor, comum.”


4. LETRA C

A resposta dessa questão está precisamente nas linhas 2 e 3: “são (...) de uma lastimável limitação de ideias, cheios de fórmulas, de receitas, capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar.” Ideias limitadas, excesso de fórmulas e incapacidade de generalizar são expressões que revelam uma característica dos literatos: eles não inovam; pelo contrário, só conseguem repetir as mesmas ideias e fórmulas já batidas. Essa ideia está expressa na letra C: “repetir regras consagradas”.

5. LETRA D

A princípio, poderíamos pensar na letra a como gabarito, pois ao usar o verbo “confessar”, na primeira pessoa, o narrador assume ter feito algo que, aparentemente, ele mesmo critica (ler e estudar outros autores). Mas essa uma é daquelas questões que a Uerj gosta de fazer, em que somos tentados a ler e interpretar os trechos destacados fora do contexto. “Ora, se o trecho já foi destacado, então nem preciso voltar no texto... a resposta está aqui mesmo”. Contudo, continuando a leitura do fragmento, vemos que o narrador , depois de dar a impressão de que também erra ao ler e estudar modelos e normas, diz que “não é a ambição literária” que o move, ao contrário daquelas a quem ele chama “literatos”. Ou seja, o narrado parece fazer um julgamento autocrítico, mas logo depois de justifica. Na prática, ele está usando a estratégia de contra-argumentação do tipo concessão, que você já conhece.

Na letra D, Isaías Caminha (o narrador) fala da impossibilidade de um escritor qualquer, mesmo sendo hábil, de dizer o que ele (Isaías) sentira. Depois, fala de si mesmo: afirma que  ele próprio, o indivíduo que sofrera e pensara sobre aqueles sentimentos, também não saberia dizê-los, ou seja, não saberia escrever sobre eles. Nesse momento, ele se assume, sem ressalvas, que também tem lá suas limitações. Gabarito letra D, portanto.


6. LETRA A

Visto em nossas aulas: métodos argumentativos. O tipo de raciocínio que parte de um caso particular (“fatos detalhados”) e tira dali uma regra geral (“impotentes para generalizar”) é o indutivo (página 20, módulo 1). Letra A, portanto.


7. LETRA D

Adição = adicionar, acrescentar ideias. A alternativa que trouxesse qualquer palavra com esse sentido de acréscimo seria o gabarito. À exceção da letra D, nenhuma alternativa traz uma palavra com essa semântica. Na letra d, a palavra com esse valor semântico de adição, acréscimo é “também”. Gabarito letra d, portanto.

OBS: O conector aditivo “mas também” muitas vezes forma um par com a expressão “não só” (facilmente inferível da primeira oração: que ela não só tenha a sorte que merecer, mas que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil.) Dessa forma, o “também” está somando o fato de ter a sorte que merecer ao fato de despertar um escritor mais hábil.


8. LETRA B

O narrador vem o tempo inteiro falando da incapacidade e inabilidade de seus companheiros de escritório. No período anterior ao destacado na questão, ele deixa mais clara ainda sua opinião sobre os companheiros: “dignos de indiferença”. Contudo, apesar dessa indiferença, o narrador sente dores, se angustia.  E seus companheiros, orgulhosos do que conseguiram escrever, seriam capazes apenas de tecer críticas destrutivas em relação ao livro que Isaías estava escrevendo, gerando espanto e atitudes sarcásticas por parte deles. Todos esses sentimentos: dor, angústia, espanto e sarcasmo (os dois últimos por parte de terceiros), revelam que o narrador se sente magoado com toda essa situação. Gabarito letra b.


9. LETRA A

A opinião de Marcelo Gleiser é que não é absolutamente necessário que um filme tente ao máximo ser fiel à ciência que retrata. O autor do texto muda sua opinião (“muda” porque ele nem sempre pensou assim, como podemos perceber pelo 3º parágrafo: Até recentemente, defendia a posição mais rígida, que filmes devem tentar ao máximo ser fiéis à ciência que retratam) porque admite que existe uma diferença crucial entre um filme comercial e um documentário científico. Para chegar a esse raciocínio, vocês podem se fazer a seguinte pergunta: o narrador muda de opinião porque...

1 - “documentários devem retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população” ? Não parece coerente;

2 –“ filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciência têm enorme valor cultural” ? Na verdade, esse argumento fundamentaria a opinião anterior, e não a nova;

3 – “as pessoas vão ao cinema esperando uma ciência crível” ? Esse argumento também fundamentaria a opinião anterior do narrador, e não a nova.

Gabarito letra A, portanto.


10. LETRA C

Nesta questão, todos os pares de vocábulos são opostos entre si, porém apenas um deles corresponde à tal oposição estudada no campo da literatura: a ciência corresponderia à “verdade”, ao que se pode observar na realidade; Hollywood corresponderia à verossimilhança, ao que é provável, plausível de acontecer – no caso – num filme de Hollywood.

A ciência é aquela que pode atestar que o que acontece é verdade, ou então explicar o que acontece na realidade: uma explosão sem som, por exemplo. Já Hollywood, descompromissado com a ciência, ou seja, com uma realidade observável, pode, sim, mostrar uma explosão no vácuo com som pois isso é verossímil naquele universo ficcional que ela propõe.


11. LETRA B

Mais uma vez a concessão aparece como estratégia de contra-argumentação. E mais uma vez a UERJ ajudando quem esqueceu o que é a concessão, contra-argumentação ou até mesmo argumentação e suas estratégias. Nós vimos, nas nossas aulas, que o elemento introdutor de uma concessão, ou aquele que vai marcar a tal negação da contra-tese, são palavras como mas, porém, contudo, todavia, entretanto, embora etc. Ficamos então entre as letras B e D. Contudo, na letra D, não se estão reconhecendo fatos contrários ao ponto de vista defendido. Na verdade, a letra D só traz a negação ou a redução desses fatos. Letra B: A tese dele é a de que filmes de ficção não tendem a ser fiéis à ciência. A contratese, como ponto de vista contrário a tese, é então a de que filmes de ficção são fiéis à ciência. Vejam que, primeiro, se reconhece a contratese (Pode ser que existam alguns), por isso, nesse primeiro momento, o enunciador parece CONCEDER a razão a alguém que dele discorde (em outras palavras, conceder a razão a alguém que defenda a contratese). Contudo, num segundo momento NEGA essa razão, tirando-a de seu oponente, ao dizer que se existirem não

fizeram muito sucesso. É esse movimento de primeira dar a razão para o oponente para depois tirá-la dele é que caracteriza a concessão.


12. LETRA C

O segredo da questão é a palavra “identificação”, que revela serem as ideias “localidade dos Estados Unidos que concentra empresas do ramo cinematográfico” e “indústria cinematográfica” do mesmo campo semântico. Ora, se em Hollywood (um distrito da cidade de Los Angeles) há uma grande concentração de empresas do ramo cinematográfico, posso chamar esse ramo cinematográfico de Hollywood? Posso! Há uma relação de afinidade, de “identificação” entre as duas ideias. Posso, portanto, substituir, representar uma pela outra: representação de uma ideia por outra, com ambas pertencendo ao mesmo campo semântico – metonímia. Gabarito letra C, portanto.


13.  LETRA B

As sobrancelhas levantadas revelam a indiferença com que os cientistas encaram as distorções feitas pelo cinema; o público,contudo, por não ligar para a ciência, esbugalha os olhos. Ou seja, o público não se importa se aquilo está, de acordo com a ciência, certo ou não; ele só se admira daqueles efeitos – e tal admiração é indicada pelos olhos arregalados. Letra B, portanto.


14. LETRA D

Em todas as alternativas (com exceção da letra B, em que há apenas uma asserção), vemos generalizações: “Sempre vemos explosões gigantescas, estrondos fantásticos”; “Óbvio, documentários devem retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população”.

A única alterativa em que o autor evita uma generalização, admitindo uma exceção, é a letra D. Generalização: “as pessoas não vão ao cinema para serem educadas”; admissão de exceção: “ao menos como via de regra”.


15. LETRA C

Quando o autor falar em exageros, fala também de distorções. Distorções essas que não devem ser criticadas porque é natural para o cinema (“a arte”) distorcer, exagerar, não se preocupa com a verdade para poder convencer ao telespectador, não de que determinado fato seja real ou possível, mas convencer, por exemplo, num sentido de “educar as emoções” (linha 22). Gabarito letra C.


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